A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) foi instituída em 2009 e 15 anos depois, se percebe um baixo impacto na vida dessa população. É preciso trazer algumas questões: O Sistema Único de Saúde (SUS) tem em suas diretrizes o princípio da equidade, por que existe a necessidade de uma política específica para ratificar esse trabalho? De que universalidade se fala quando a saúde é um direito para todos? Por que a PNSIPN invisibilizada na enfermagem? Qual o compromisso da 85ª Semana de Enfermagem Brasileira intitulada: “Romper ‘Bolhas’ No Mundo Atual Para O Resistir E O Coexistir da Enfermagem”?
Partiremos da última questão por entender a necessidade urgente de pautar o lugar da enfermagem nas políticas, principalmente públicas de saúde. O mês de maio foi escolhido para celebrar a semana de enfermagem, pois considera a relevância de Florence Nightingale como a referência da profissionalização e da modernização e cientificidade da assistência. De fato, para responder a centralidade europeia respondeu muito bem ao que se desejou ela como uma mulher branca de alta classe inglesa e cristã.
Em contrapartida Mary Jane Seacole ficou esquecida durante décadas e seus feitos consequentemente não compuseram um escopo teórico científico. Por que pouco se sabe sobre ela? Uma mulher negra, latina, com poucos recursos financeiros, mas que se colocou a assistir os feridos da guerra fora das luzes atentas da lamparina. E foi assim que o racismo foi tomando conta da enfermagem. Onde e como estão as enfermeiras negras ao longo dos anos?
A falsa ideia de uma neutralidade racial chegou no SUS. Todos são iguais e os direitos são universais. Existe um grande problema nessa universalidade, pois ela foi exclusivamente eurocentrada. Se esqueceu que a universalidade brasileira vem dos povos originários, dos povos africanos que em diáspora chegaram nessas terras para serem escravizados. O que se percebe é uma construção assistencial a partir de uma única visão de mundo.
Tal constatação tem mostrado um desafio para o SUS que se vem remendando através das diversas políticas para tentar garantir uma equidade e universalidade pela diversidade, como a PNSIPN. Neste sentido a semana de enfermagem nos faz uma provocação no que concerne a romper bolhas para coexistir. É acreditamos que as bolhas devem se romper desde a formação, a prática passando pelas instituições de classe, pelos currículos na construção de uma formação e de um cuidado antirracista na enfermagem. Sigamos por uma enfermagem plurirracial e intercultural.
Referências sugeridas para leitura:
1. Staring-Derks C, Staring J, Anionwu EN. Mary Seacole: enfermeira global extraordinária. Rev Enferm Avançada. 2015; 71(3):514-525. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jan.12559
2. Silva SO, et al. “Na verdade eu nunca participei e nem ouvi falar sobre”: a política nacional de saúde integral da população negra na perspectiva de gestores e profissionais da saúde. São Paulo: Saúde e Sociedade. 2022; 31(4):e210969pt. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/Ssj6hY44nMJXbNFjcT39YJR/?format=pdf&lang=pt
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